São Paulo, 15 de maio de 2005

Querida Lygia:

Parabéns pelo Prêmio Camões, com muito orgulho para mim por tê-la como colega de galardão. Ninguém o merece mais do que você, não apenas pela alta qualidade da obra, mas pela dignidade da carreira, construída com persistência equivalente à força do talento, num exemplo de vocação servida desde a adolescência pelo trabalho consciente.

Por falar em adolescência, quero me gabar neste momento de ter sido um dos primeiros a discernir na principiante dos anos de 1946 a grande escritora que despontava. Refiro-me ao concurso de contos com pseudônimo entre estudantes de Direito, do qual fui juiz, não lembro se único ou com outros. O de que lembro é que destaquei um que vinha com sobrecapa de papel almaço ilustrado por três velas desenhadas a lápis vermelho, “Os mortos”, e o indiquei para o prêmio como sendo de longe o melhor. Depois, identifiquei a autora, conhecida vagamente de nome devido a uma coletânea juvenil que, sendo eu ainda estudante, foi comentada na Faculdade de Direito como sendo auspiciosa.

De lá para cá você foi subindo sempre, numa carreira segura, não apenas no romance, mas no gênero em que estreou, revelando sempre a mão de mestre que nunca falha, como pude verificar mais uma vez em Meus contos preferidos,[1] que não são os únicos de qualidade, mas representam admiravelmente todos os outros.

Parabéns renovados, portanto, de Gilda e meus, com saudades de quem orientou virtualmente a sua coletânea.

O mais afetuoso abraço do velho amigo e admirador

Antonio Candido

Acervo Lygia Fagundes Telles/ IMS


[1] N.S.: Meus contos preferidos é uma antologia com 31 contos de Lygia Fagundes Telles selecionados pela própria autora. O livro foi publicado em 2004 pela editora Rocco.