Dresden, 4 de janeiro de 1857

Meu senhor,

Com a entrada do ano que agora começa é do meu dever levar à augusta presença de vossa majestade os sinceros votos que faço pela prosperidade da família imperial, assim como pela continuação do feliz reinado de vossa majestade.

Este dever que será sempre sagrado para mim confunde-se em parte com o reconhecimento profundo de quanto devo à augusta bondade de vossa majestade. Ainda nesta ocasião beijo respeitosamente as mãos de vossa majestade pela nomeação que se dignou fazer de meu sogro para diretor do Instituto dos meninos cegos.[1]

Tive a honra de levar ao alto conhecimento de vossa majestade que eu havia concluído os meus trabalhos na Bélgica e estava em vésperas de partida para a Alemanha, onde estou presentemente.

Preferi Dresden como cidade mais tranquila durante o inverno, onde poderia coordenar os apontamentos que tomei na Bélgica sobre a instrução primária e secundária, que em verdade ali floresce. Aqui também poderei com mais facilidade exercitar-me na língua alemã, que me será necessária para a continuação desses estudos na Alemanha, e fazer ao mesmo tempo a reimpressão que pretendo. Teubner, tipógrafo de Leipzig com uma filial em Dresden, prontifica-se a fazer-me essa edição em português, de cuja língua se tem alguma prática em suas oficinas. Estamos ainda em ajustes, mas a impressão irá depressa — ao menos com quanta brevidade for possível para que eu possa concluir os meus estudos na Alemanha e esteja em posição de obedecer sem demora às ordens do governo de vossa majestade, quando se tratar da Comissão do Instituto Histórico, para que tive a honra de ser indigitado. Não me iludo sobre os incômodos que teremos de passar nessa excursão: não serão poucos nem de pouca monta; mas nela descortino tanta vantagem para a minha carreira literária, que essa escolha, ao passo que sobremodo me honra, vem a ser também a realização dos meus melhores desejos. Ainda uma vez, meu senhor, beija as augustas mãos de vossa majestade imperial

o mais humilde súdito

Antônio Gonçalves Dias

Anais da Biblioteca Nacional: correspondência ativa de Gonçalves Dias. Rio de Janeiro: Divisão de Publicações e Divulgação de Biblioteca Nacional, 1971, pp. 207-208.

[1] N.S.: O sogro de Gonçalves Dias era Cláudio Luís da Costa (1798-1867), médico que dirigiu o hoje conhecido Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro.