Rio [de Janeiro], 31 [de] agosto [de] 1975
Meu caro, grande e modesto Olímpio de Souza Andrade,
Nem sei o que mais agradecer a você – se a dádiva das edições de Contrastes e confrontos[1] ou as palavras que a acompanharam. Restaria ainda por agradecer esse serviço que você presta à memória de Euclides da Cunha, e que importa em dívida nacional para com o pesquisador incansável e o analista igualmente extraordinário da obra euclidiana em que você se converteu. Sim, meu caro, é preciso que alguém o proclame: a memória literária de Euclides encontrou, afinal, o zelador e revelador de que estava carecendo. Essa Caderneta,[2] então, põe a gente emocionada, e a emoção é dupla: revive-se o dia a dia do escritor-repórter e sente-se a amorosa vigília do seu devoto estudioso a decifrar no microfilme, sem pressa e sem pausa, a miúda caligrafia dos apontamentos originais. Daí à introdução crítica e aos comentários esclarecedores, é sempre, para nós leitores beneficiados, o sentimento de que você não poderia dar mais generosa e útil aplicação às suas horas “não profissionais” do que esta: servir à glória de Euclides e, obviamente, à cultura do país. Obrigado, amigo!
A admiração afetuosa e o abraço muito cordial do seu,
Carlos Drummond de Andrade
Arquivo Olímpio de Souza Andrade / Acervo IMS.
[1] N.S.: A obra reúne artigos de Euclides da Cunha publicados na imprensa, e nos quais ficaram impressas as marcas inconfundíveis de seu estilo. Olímpio escreveu a introdução da edição de 1975.
[2] N.S.: Referência à Caderneta de campo, organizada por Olímpio de Souza Andrade. Trata-se da transcrição integral, comentada, da caderneta produzida por Euclides durante a sua permanência em Canudos, documento hoje sob a guarda do Instituto Histórico e Geográfico (IHGB) e que é considerada a gênese de Os sertões.